Tuesday, February 27, 2007

10 razões para não assistir ao show do Coldplay

A pulguinha que mora na minha orelha está meio irritada hoje e resolveu descontar no Chris Martin e em sua turma. Pedi a ela que justificasse a sua fúria com alguns bons (e divertidos) argumentos:

1 – O Via Funchal vai estar lotado de pessoas histéricas. Os (caríssimos) ingressos esgotaram-se em dois dias de bilheteria.
2 – Eles determinaram que a turnê pela América Latina fosse um laboratório para novas canções (o que já não aconteceu na apresentação feita em Santiago, por exemplo).
3 – A música deles é triste demais e vai te deixar meio ‘apagadão’ durante toda a semana.
4 –Se você for depressivo, vai correr para se jogar da primeira cobertura de prédio que encontrar.
5 – Eles são talentosos, mas já ficaram tão convencidos disso depois do sucesso de vendas de “A Rush Of Blood To The Head” que não se deram o trabalho de tentar fazer um álbum melhor para seus milhares fãs recém-nascidos X&Y deixou a desejar).
6 – Agora, além de produzirem músicas melancólicas, ficam propagando por aí que são os roqueiros do bem (não comem carne, não brigam e não falam palavrão!!), sendo que ainda vão ter que ganhar muitos calos nos dedos para chegarem perto do U2, a única banda que pode gabar-se deste título sem ser vaiada.
7 – Eles estão mais perto do emo, que do rock.
8 – O Chris Martin é casado com a Gwyneth Paltrow, o Oscar mais vergonhoso de todos os tempos (‘Shakespeare Apaixonado’, em 1997). E o pior, eles têm uma filha chamada Apple (!!!).
9 – A banda pediu que as casas de shows fossem organizadas de forma teatral, ou seja, todos terão que assistir ao show sentados (ou se debatendo contra as cadeiras) e, conseqüentemente, foram colocados à venda uma quantidade muito menor de ingressos.
10 – Eles são muito, muito chatos!

Friday, February 23, 2007


À procura da batida perfeita II

Depois de já degustada toda a ressaca que se arrastou até esta última sexta-feira, falemos novamente (e sobriamente) sobre o Carnaval.

Como tudo o que acontece em nosso país, a festa mais esperada do ano é resultante das diferentes expressões culturais deste povo brasileiro miscigenado até a raiz. Samba, axé e frevo (e agora também o eletrônico, a bossa e até o samba-rock) são os ritmos que fazem multidões pularem horas contínuas sob calor intenso, chuva forte, com glamour ou na falta dele, seja qual for a cidade ou local.

É esta procura pela alegria, que beira o intocável ou indiscutível, a dedicação que move comunidades pobres e a excitação de blocos humanos que correm atrás de trios elétricos que me fizeram resgatar a vontade de participar novamente de uma festa de Carnaval. Queria lembrar o que até mesmo eu sentia e queria quando passava quatro ou cinco noites ininterruptas a pular num salão (não faz tanto tempo assim, mas a disposição, logicamente, não é a mesma).

Deixando de lado as razões óbvias - feriado, cerveja e sacanagem - que fazem com que muitos saiam às ruas em busca de qualquer tipo de folia, vejamos apenas a poesia presente no Carnaval.

No Rio de Janeiro, por exemplo, longe das clássicas escolas de samba e das majestosas alegorias da Marquês de Sapucaí, há os antigos (e também os novos) blocos de rua, como o famoso “Bola Preta”, cuja história se confunde com a da própria cidade, o “Boitatá”, muito conhecido pelas divertidas fantasias, a colorida “Banda de Ipanema”, o “Simpatia é Quase Amor”, o criativo “Imprensa que eu Gamo”, liderado por jornalistas, o descolado “Bangalafumenga”, entre muitos outros que saem uma ou até duas vezes para desfilar durante o feriado.

Tocando marchinhas antigas (os meus preferidos), as tradicionais canções de escolas de samba que já se tornaram domínio público, e o enredo próprio, todos contagiam pela alegria, dignidade e simplicidade com que fazem uma festa de grandes proporções, onde não se vê confusões ou arrastões. Os ‘tiozinhos-fera’, que comandam os blocos com seus chapéus de palha e pandeiros, são respeitáveis e recebem, democraticamente, um pouco de tudo: ricos, pobres, crianças, jovens, velhinhos, casais, casados, solteiros, gente feia, bonita, descolados, passistas e até mesmo gente que não sabe o que fazer com os pés.

De Santa Tereza ao Leblon, o Rio de Janeiro transforma-se num grande salão de baile que convida a pular a qualquer hora do dia. E, acredite, os melhores blocos saíam às 8h da manhã – uma boa estratégia de buzz marketing, primeiro, porque gera comentários e, segundo, porque aumenta as expectativas, uma vez que os responsáveis pelos blocos justificam as mudanças repentinas de horários como medida para diminuir o já elevado número de foliões.

E por todos os dias é este o espírito que toma conta da cidade, seus habitantes e turistas, que andam pelas ruas, cheios de adereços ou fantasiados, à procura da batida perfeita para o ritmo de seus corações. É possível ver muita gente serrar os olhos em lágrimas só de ver tanta empolgação (inclusive eu!).

O tal espírito do Carnaval, de fato, ameniza por poucos dias a violência e a desigualdade social (não extermina, é claro, pois uma colega que estava por perto teve seu celular furtado em meio a multidão), que castigam uma cidade maravilhosa e de encantos mil como o Rio. Há que se pensar para os próximos anos que o número de turistas e foliões só deverá crescer e que, simplesmente aumentar o policiamento não será o bastante. Caso contrário, quem perderá com isso será não somente o povo fluminense, como também o Brasil, que recebe anualmente na época, milhares de gringos.

Com certeza, acabem com tudo. Só não nos tire o tão esperado Carnaval.

“Quem não chora, não mama,
segura meu bem a chupeta.
Lugar quente é na cama,
Ou então, no Bola Preta!”

Friday, February 16, 2007

À procura da batida perfeita I

Comecei bem o meu Carnaval. Tá certo que estou meio enferrujada neste assunto porque, confesso, nos últimos anos bateu uma certa preguiça de me mexer no sentido de procurar algum tipo de folia que não fosse ficar tranqüila num canto, tomando uma cerveja gelada em boas companhias, curtindo tudo, menos Ivete, Mangueira e cia.

Mas para 2007, já havia prometido a mim mesma experimentar um pouco de coisa nova, na certeza de que reciclar faz bem e que poderia desistir ao sentir que não havia feito uma boa escolha.

A primeira parada foi na saída do bloco paulistano da Vila Madalena Cordão Carnavalesco Confraria do Pasmado (CCCP), que pelo segundo ano desfilou pelas ruas do bairro. Já tinha assistido a uma apresentação do grupo no ano passado e seu repertório ‘samba-de-bom-gosto-no-pé’ me agradou bastante.

Talentosos e irreverentes, os jovens músicos destilam em seu público (em sua maioria, formado por família e amigos dos integrantes) muita simpatia e doses generosas do mais fino e original samba de roda, além das composições próprias, como o seu ótimo samba-enredo: “Confraria e Plutão de Volta aos Tempos de Cordão”. Hilário, o samba canta a sua admiração por Plutão, rebaixado oficialmente em 2006 à planeta anão.

Para quem não viu este cordão passar, segue abaixo o samba-enredo mais cômico de todos os tempos e prepara-se para o ano que vem!
Que venha agora o Carnaval!

Confraria e Plutão de Volta aos Tempos de Cordão

Plutão, aaii Plutão
Caiu pra segunda divisão
Você não é mais planeta
Mas mora no nosso coração
(2x)

U s-i-s-t-e-m- a

O sistema solar
Sempre foi elitista
Você foi riscado da lista
Mas não do coração desse sambista

A Via Láctea virou a passarela
Pra Confraria desfilar ao lado dela
(2x)

Plutão nunca foi estrela
Mas apagar seu brilho é exagero
Pra essa gente que se vira o ano inteiro
Mas apagar seu brilho é exagero
Pra essa gente que se vira o ano inteiro
Dedicamos nosso samba em fevereiro

Vem morena que orbito com carinho e devoção
Se debruce nessa orgia de planeta
Essa gente que habita aqui na Vila Madalena
Eu convido pra sambar nesse Cordão

Thursday, February 15, 2007

Perdi alguma coisa?

Há alguns meses esperava por assistir o filme “Scanner Darkly”, de Richard Linklater
(traduzido como “Homem Duplo” no Brasil) - produzido por Steven Sodenberg e George Clooney, estrelado por Keanu Reeves, Robert Downey Jr, Woody Harrelson e Winona Ryder - que se mostrava muito interessante pela linguagem visual inovadora e pelo assunto abordado.

Vindo de quem viria, a minha expectativa era, no mínimo, sair satisfeita do cinema, apenas confirmando o que eu já sabia: bons atores e bons produtores. No entanto, acho que perdi alguma coisa e ainda estou tentando descobrir o que faltou (ou o que eu não encontrei) na película.

Na trama, Keanu Reves é um agente secreto designado para infiltrar-se no submundo do tráfico de uma droga específica e muito poderosa, que acaba tornando-se um usuário e é obrigado a investigar a si próprio, o que provoca nele uma crise de identidade e de valores. Já Downey Jr. - o ator que um dia foi fantástico - faz o triste papel de si próprio, um drogado totalmente afetado que não diz nada que faça algum sentido e que quer ferrar (também não é possível entender o porquê) com a vida de Reeves. Com um humor negro pouco engraçado, o filme consegue mostrar o uso de drogas no mundo moderno e suas conseqüências bizarras.

Baseado numa conspiração sobre a comercialização desta droga altamente viciante - que teoricamente tem sendo duramente combatida pelo governo, o mesmo que supostamente a produz -, apesar do tom de protesto, o enredo mantem-se superficial durante sua a hora e meia de exposição. Mesmo com a iniciativa de criticar e expor seu posicionamento, deixa a desejar por causa do roteiro fraco, comprometido pelos diálogos longos, chatos e desnecessários.

A parte interessante do filme ficou por conta do visual gráfico, desenvolvido através de uma tecnologia chamada rotoscopia interpolada (da qual eu não domino nem o nome!!) que produz um tipo de animação avançada, que dá mais realidade à história.

Há outras opções melhores nos cinemas da cidade.

Thursday, February 08, 2007

Placebo: menos poderá ser mais.

Placebo é indiscutivelmente uma grande banda de rock (vide a admiração que despertou em mitos da música, como David Bowie), que neste ano, para nossa sorte, já tem data certa para retornar aos palcos brasileiros.

Na primeira vez em que estiveram no Brasil, em 2005, a banda teve que cumprir um calendário exigente e apertado para se apresentar durante as etapas classificatórias do festival Claro que É Rock (que depois também nos trouxe Iggy Pop, Mike Patton, Sonic Youth, Flamming Lips e Nine Inch Nails). Apenas no Brasil foram oito shows, dos catorze que a banda fez em toda a América Latina.

Tal compromisso e o repertório sem novidades – a turnê latina foi parte da divulgação da coletânea de singles “Once More with Feeling” – imprimiram às apresentações um tom burocrático e frio. Assim como eu, muitos fãs ficaram decepcionados, apesar da qualidade do som, da seqüência de hits famosos tranqüilamente despejados ao público empolgado (exibindo suas unhas pintadas e olhos delineados iguais aos integrantes da banda).

O que não deu certo? Acredito que os músicos estavam pouco à vontade e talvez nem esperassem a recepção (sempre) tão calorosa dos brasileiros. Segundo as críticas, os shows fora de São Paulo foram bem melhores.

Apesar de sempre negar o título de ícone glam rock - gênero inventado pelo próprio Bowie e seu alter-ego Ziggy Stardust, que destacou-se mais pelo visual dos músicos do que pela roupagem das composições -, o Placebo é formado pela bela voz de Brian Molko (que também empenha a guitarra), Stefan Olsdal (baixo) e Steve Hewitt (bateria). Um inglês, um americano e um sueco, respectivamente, fazem juntos um som melancólico, porém, explosivo, com letras densas e ousadas, que traduzem angustia e até um certo desespero.

Agora a expectativa é (e eu pagarei para ver) que, com um número bem menor de apresentações – 25/03 no Rio de Janeiro e 27/03 em São Paulo - e já familiarizado com o Brasil, a banda anglo-européia, que tem onze anos de carreira, sinta-se mais feliz em cima dos nossos palcos e nos mostre ao vivo aquilo que só conhecemos dos DVDs.

Tuesday, February 06, 2007

Um banquinho e um violão. Não é Tom e Vinícuis, mas é bom também.

Seguindo a minha teoria punk de que não precisamos gostar do que todas as outras pessoas estão curtindo (nem no mesmo momento em que isso está acontecendo), nesta semana tem embalado deliciosamente os meus atribulados dias um som muito agradável: Kings Of Convenience.

Sim, você vai dizer que eu estou superatrasada e que eles já vieram ao Brasil há pouco tempo, para o Tim Festival. Mas realmente eu não pretendia dar um furo de reportagem. Resgatar estilos, bandas e artistas e apreciá-los no adequado momento faz parte da minha relação com a música.

O fato é que Kings Of Convenience é a última tendência no meu mp3 player nas últimas semanas - graças à colega Gabi, que me emprestou o álbum “Riot On An Empty Street”, o quarto e último álbum lançado (2004). Com ares de bossa nova, esta dupla norueguesa produz suaves canções folk, à base de violão, às vezes acompanhado por um piano. Em todas as melodias eles cantam juntos, lembrando muito os americanos Simon & Garfunkel, dueto que ficou conhecido principalmente por "Mrs. Robinson"
, com quem são constantemente comparados pela imprensa especializada.

Na verdade, o que quase todas as bandas tentam fazer quando lançam seus discos e shows acústicos, é feito por Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe integralmente, com muita propriedade e autenticidade. Eu diria ainda que quase despretensiosamente (quase, porque ninguém faz música sem intenção alguma).

O apanhado de músicas, cuja seqüência parece ter sido escolhida propositalmente para dar a sensação de que se está ouvindo uma mesma e longa faixa, proporciona um grande alívio aos ouvidos, em meio à ‘explosão de modernidade’ em que vivemos. É claro que do ponto de vista crítico, esta característica torna-se negativa, indicando pouca versatilidade e diminuindo as possibilidades para a banda.

Toda a graça e delicadeza das faixas “Misread”, “I’d rather dance with you” e “Gold in the air of Summer” ainda está distante da magia e inspiração que eternizaram as belas canções elaboradas pela parceria entre Tom Jobim e Vinícuis de Moraes, que evoquei no início deste texto. No entanto, há nesta dupla nórdica tanto talento e sofisticação, sutilmente percebidas pelas informações eletrônicas, do jazz e de movimentos independentes, que os torna capazes de criar muito com pouco, despertando uma fiel legião de fãs. A melhor definição que eu arriscaria dizer é “leve, mas não vazio”.

Se você já ouviu e gostou, deve saber do que eu estou falando. Se nunca teve a oportunidade, garanto que o esforço para tentar ouvir algum trabalho deles será recompensado. Os outros álbuns que também vale a pena conferir são: “The Kings of Convenience” (2000), “Quiet Is the New Loud” (2001) e “Versus” (2001).