Friday, January 12, 2007

Corra que ainda dá tempo


Para os retardatários, vale a pena dar uma corridinha e conferir o emocionante C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor, de Jean-Marc Valleé, que ainda está em exibição no HSBC Belas Artes e na Sala UOL de Cinema.

Tenho tentado assistir a este filme há mais ou menos uns dois meses, mas com a obrigação de me dividir entre tantos happy hours, festas e compras de fim-de-ano, pouco tempo sobrou para as idas ao cinema que, só agora, tenho colocado em dia.

Mas foi bom não ter esquecido e ter feito uma forcinha para ver uma das últimas exibições desta linda e bem produzida película.

O modo como é retratado o amor da família Beaulieu, formada pelo pai trabalhador e conservador, pela mãe coruja e sensitiva e por cinco (bem diferentes) filhos homens pode parecer uma fórmula já conhecida das telas, mas que, ainda assim, conseguiu encontrar nos pequenos detalhes a reprodução perfeita da convivência familiar.

Estes pequenos detalhes – muitos, engraçados, já outros, um pouco tristes, que até nos fazem lembrar de desafetos antigos com entes queridos – somados ao inquietante roteiro e a grande atuação do elenco, faz com que os melhores sentimentos sejam despertados em nossos corações, assim como as esperanças de ver um final feliz também. Afinal, problemas podem acontecer não só nas melhores famílias e, sim, em qualquer uma.

A história tem início no Natal de 1960, com o nascimento de Zac (Zachary), quarto filho do casal, que sobrevive após um parto sofrido e com diagnóstico nada otimista. Desde então, ele é tratado pela mãe (e depois por toda a família) como um menino sensível, com dons especiais.

O pai, Gervais, que sempre estufa o peito para falar das qualidades de seus filhos e sempre credita a si o gene que as originou, é carinhoso, mas também exigente e não admite quando começa a perceber algumas particularidades no comportamento de Zac desde a infância.

Aliás, é preciso abrir aqui um parágrafo para falar de um traço marcante da personalidade do pai que acabou por ilustrar e contextualizar toda a narrativa. O chefe da família é um apaixonado por música, que sempre viu Zac como seu seguidor e o incentivava com presentes como violão, guitarra e bateria, na tentativa de torná-lo um grande músico. A começar pela cantora preferida de Gervais, Patsy Cline, passando por todos os Natais da família em que ele interpretava Charles Aznavour (muito divertido), o filme é repleto de referências aos principais artistas que lideraram aquela época, como David Bowie, e que inspiravam o garoto Zac – este sempre muito bem vestido a caráter. Confesso que o momento em que ele canta em alto e bom som “Space Odity” (com direito à maquiagem de Alladin Sane) me emocionou muito.

De fato, o garoto mostra-se diferente dos outros irmãos no tocante à sua sexualidade (Bowie provavelmente ajudou a confundir a cabeça do jovem) e ele próprio começa a notar que sua atitude incomoda o pai e os irmãos. Para “curar-se” e tentar ser como os outros, ele desafia-se durante toda a sua vida e só aprende a assumir-se e fazer aceitar-se já adulto, depois de uma mística viagem à Jerusalém (lugar que sua mãe, muito religiosa, sempre sonhou conhecer) e da morte de um de seus irmãos mais velhos, por overdose. Raymond era este irmão, com quem Zac nunca se deu bem.

Enfim, o filme traz à tona toda a verdade sobre a vida familiar, porém, de forma muito delicada e instrutiva. Um bom (e leve) guia para pais e filhos enfrentarem o conflito entre suas gerações.

Espero não ter revelado muito do filme, apenas o suficiente para deixar-lhe com vontade de correr para a próxima sessão. Não esqueça a pipoca!

No comments: