Friday, December 08, 2006

Precisa-se de campainha para celular


Se eu fosse o James Brown ficaria incomodado (para não dizer enfurecido) em ver a minha música virar toque de celular de milhares de pessoas por todo o mundo.

Realmente, no começo, é tudo muito legal! Poxa, com tanta tecnologia é possível baixar músicas através de algum site (alguns muito solidários, por sinal) ou então, “emprestar” do iTunes do vizinho, editar, disponibilizar de diversas formas o som que eu mais gosto - ou gostava – no meu celular moderno e ouvi-lo todas as vezes em que alguém me ligar. Todas. Todinhas. Tá bom, dá pra ser só em algumas, mas eu não consegui essa proeza.

O fato é que eu caí na tentação de utilizar uma música do meu agrado como toque para as chamadas recebidas pelo meu telefone móvel e, agora, estou a ponto de atirá-lo contra um muro de concreto todas as vezes que ele toca: “Uhaaaaaaaaaaa, I feel good!”. Não só eu, é claro, como todas as outras pessoas que trabalham próximas a mim.

E desde então percebo o quanto esta mesma tecnologia que nos permite transformar toda a nossa prateleira de CDs em pequenos arquivos - transportáveis em qualquer quantidade e para qualquer lugar do mundo - pode ser danosa. Basta acompanhar o raciocínio: imagine a mesma música tocando, no mínimo 10 vezes por dia (no meu caso, pelo menos), sempre quando alguém quer falar com você, sejam os amigos, seja a família preocupada, ou o chefe cobrando o algo, ou então o banco avisando que o seu cheque especial foi pelos ares, ou ainda, aquela pessoa que você não quer atender de forma alguma, te ligando incessantemente, às vezes nos horários mais inconvenientes.

Isso sem contar que a música só é legal e bem-vinda quando a ligação é de alguém querido e, principalmente, quando você não está surtando de tanto trabalho e não há nenhum chato tentando falar com você. Nesses dois casos a música fica tão chata quanto.

E hoje, com tantas possibilidades tecnológicas à disposição de mentes cada vez mais brilhantes, tornou-se impossível controlar a propagação não só da música, como de qualquer outro tipo de mensagem, como clipes, músicas, filmes e até produções caseiras.

Porém, não cabe aqui uma discussão muito extensa e tão pouco criar uma polêmica para o assunto em questão. É conversa para boteco, roda de amigos, porque ninguém aqui acha ruim toda essa acelerada modernidade. Além do que seria muito pretensioso querer discutir a postura das operadoras de celulares, pois nem elas, nem gravadoras, nem músicos estão preparados para apontar o que deve ser proibido e o que deve ser permitido. Estão todos a favor da evolução dos meios, de atrair consumidores e aumentar seus lucros e de experimentar o sabor de ser cada vez mais diferente dos demais, até mesmo no toque do seu celular.

Aliás, é até normal cansar-se de alguma coisa de que se gosta muito. Afinal, quantas vezes você já não ouviu aquela música daquele disco daquela sua banda preferida e, depois de tanto ouvir, passou no mínimo seis meses sem sequer tocar no pobre CD? Ou então, quantas vezes você não foi um dos primeiros a descobrir finalmente um som novo e ousado que depois caiu no gosto popular, tocou em todas as rádios e foi TOP 10 na MTV durante umas três semanas?

Caro mestre James Brown, é claro que você continuará sendo uma das melhores coisas que já ouvi, mas infelizmente, para seu próprio bem, terei que ficar longe de você algum tempo.

Amigos, aceito ringtones e toques polifônicos comuns, que imitem no máximo o despertador do meu quarto!

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