Friday, May 25, 2007

O verdadeiro soco no estômago


O filme "Alpha Dog", de Nick Cassavets (sim, filho de John Cassavets), lançado na última semana no Brasil, só não poderia ser melhor porque é o retrato triste de uma história de estupidez humana.

O diretor, também conhecido pelo ótimo "Blow" (estrelado em 2001, pelo unânime Johnny Depp), reconstruiu o caso real do jovem traficante californiano Jesse James Hollywood, que, para cobrar uma dívida de um de seus muitos devedores em toda a L.A., resolveu inconseqüentemente, seqüestrar o irmão (Anton Yelchin) do mesmo, um judeu viciado e individado, de personalidade altamente impulsiva e violenta (Ben Foster). Problema pouco era bobagem.

Só que o ignorante playboy (Emile Hirsch), nas telas, filho do sempre intocável e indiscutível Bruce Willis, demorou a sentir o quão grande era o pepino que tinha pela frente. E, cercado de outros tantos tolos, levou à frente a situação, até as últimas conseqüências. O resto, só assistindo para acreditar.

E toda a trama desenvolve-se em torno da cagada, que tinha como palco uma sociedade de jovens idiotas, na mesma proporção em que eram bonitos, sarados e milionários, e suas intermináveis festas. Aliás, cada um dos personagens foi favorecido pela boa escolha do casting. Desde Willis, como o pai criminoso, porém descolado, e Sharon Stone, na pele da mãe histérica e controladora, até cada uma das testemunhas do crime (ao final do filme você há de me dar a razão).

Mas um dos tantos elogios para o filme devo aqui dirigir ao ex-BBoy e agora muito mais 'na moda', o sexback Justin Timberlake, que encarou muito bem o papel de amigo mais consciente da turma de playboys do mal, numa atuação excelente, em que viveu a decisão de libertar o garoto (pelo qual criou grande afeição durante o cativeiro) antes que a massa engrossasse, ou livrar-se do pobre coitado para terminar de vez com o empasse.

E à medida que o seqüestro durava, mais ferrados eles percebiam que estavam e que ainda mais difícil seria sair daquela enrascada sem sofrer os justos julgamentos. E à medida que o filme chegava ao fim, menos você consegue entender a cabeça dos homens...mas isto é papo para uma outra discussão. O importante é reforçar o talento deste diretor, que nunca precisou e talvez nunca precise viver à sombra do pai. Sua vocação para extrair a alma de qualquer pessoa que seja e colocá-la em evidência, com respeito e parcialidade é indiscutível.

Outro detalhe interessante da película, que, porém não agradou a crítica, foi como ele insistiu em reconstruir o fato com o máximo de informações verídicas, mesmo depois de ter sido proibido de expor em sua obra toda tudo o que conseguiu levantar com a família e demais envolvidos no caso, para que seu filme não interferisse no julgamento do principal acusado, há pouco tempo levado aos tribunais. O melhor exemplo foi uma versão da nossa ªGarota de Ipanemaº colocada no exato momento em que uma legenda contava como e onde Jesse James Hollywood foi preso. Na vida real, o criminoso, na época um dos mais procurados no mundo pelo FBI, foi encontrado em Saquarema, Rio de Janeiro. Sim, ele foi pego no Brasil, enquanto o filme diz que ele estava escondido em Assunção, no Paraguai.

Brutal, no entanto, verdadeiro, como todos os trabalhos do diretor. Se você tem estômago forte, os únicos efeitos ficaram na sua cabeça, por alguns dias.


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