Monday, January 28, 2008

Vale o ingresso


Não sei se eu fui uma criança muito infantil (desculpem a redudância necessária) ou as de hoje são infinitamente mais espertas e descoladas que as da minha geração. Pare, pense, lembre e veja se concorda.

É o que tenho reparado freqüentemente, ouvindo ou presenciando histórias dos filhos de amigos e colegas de trabalho. Tem sempre alguém contando alguma bizarrice ou "adultice" de uma criança "sem idade para isso ou aquilo".

E é exatamente esse aspecto que me chamou atenção em "Juno", lançamento de Jason Reitman, nos cinemas desde o último fim de semana. Sensível, gracioso e bem produzido, o filme conta a história de uma adolescente surpreendida por uma gravidez sequer imaginada, muito menos planejada, e sua decisão madura (e bem inusitada) para o tal problema.

Aos 16 anos, a fofa e esperta personagem Juno (Ellen Page, de "X-Man: O Confronto"), só pensava em rock, amigos e um pouquinho de sacanagem, como todo teen. Até que uma bobeada com o seu amigo, depois namorado, resulta numa gravidez praticamente impossível de ser aceita. Até aí, nada muito diferente das histórias que conhecemos na vida real.

Mas o que diferencia Juno das meninas despreparadas e desinformadas de sua idade foi a decisão de ter o bebê e oferecê-lo a um casal que não conseguia ter filhos. Apesar de estranha, a escolha dela deveria ser a mesma de outras garotas que não querem ter filhos ou não podem criá-los e acabam abortando e - até pior - abandonando ou maltratando os indefesos pequeninos.

Não acho difícil que outras garotas na mesma situação tentem fazer o que o filme propõe, mas estou certa de que a educação e religião puritana que nos cerceiam não aprovariam um ato tão chocante. Consideram mais digno ver garotas em clínicas clandestinas e bebês deixados em sarjetas e lixeiras para que, com sorte, sejam encontrados por boas almas.

Paulie Bleeker (Michael Cera, de "Confissões de Uma Mente Perigosa") é o (ir)responsável pelo acidente e é mantido longe de todas as decisões tomadas por Juno, uma forma talvez um pouco injusta de mostrar a imaturidade e o despreparo dos homens para situações complexas como a contada. Mas meigo, apaixonado e um tanto nerds, Bleeker tenta apoiá-la (mesmo que pouco convincente).

O diretor Jason Reitman ("Obrigado por Fumar") arrebenta mais uma vez, agora com um assunto delicado, tratado de forma tão desmitificada para uma geração que não deve (ou não deveria) ser mais como a de nossos avós. Vendo o filme, é possível perceber o cuidado dele com o tema, com o texto inteligente e divertido, com cada ator que escolheu e com a trilha sonora também. Um filme de quem gosta de (e sabe) contar histórias e para quem aprecia assistí-las.

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